O dinheiro tem evoluído ao longo de seis mil anos. Em sua história, se pode perceber algumas constâncias e algumas tendências.
Como constâncias, noção de dinheiro como retenção de valor e meio de pagamento. E como tendências, a simplificação, transparência, desmaterialização e setorialização.
Logicamente, sempre existiram os escambos, as trocas de bens, que geravam cotações. A partir da civilização suméria, se pensou num instrumento representativo.
Essa representação podia ser em sal, açúcar, algodão, gado, era o que se dispunha. Até que foi inventada a moeda, que em Roma se chamava denarium, daí “dinheiro”.
A moeda era um instrumento fisicamente dissociado de outros tipos de bens, um avanço.
E na era do mercantilismo se inventou papéis representativos de moedas, os primeiros tokens. O lastro era metal (como o padrão-ouro) porém a circulação mais conveniente era em papel.
Aos poucos, o metal foi escasseando e se tornando muito caro para ser cunhado. Assim, se decidiu converter na própria moeda o papel representativo, papel-moeda.
Ou seja, dinheiro e token foram fundidos, ante a conveniência que se apresentou.
Em seguida, houve descolamento entre lastro e papel, o dinheiro se tornou escritural. Daí para o dinheiro eletrônico foi um pulo. E seu volume logo ultrapassou o das cédulas.
Volatilidade, elevada emissão, inflação, crises. Internet, arquitetura aberta, mundial. O BIS se assusta, e o Fed inicialmente rechaça os strings de hashes de dinheiro virtual.
Mas a invenção do blockchain traz as criptomoedas, as autoridades não conseguem controlar. A velocidade de adesão é estonteante, os ganhos de especulação são altíssimos.
O mainstream se rende, são criadas criptomoedas restritas, cambistas e bolsas. Vem a regulação assimétrica, normatizar menos que o comum, mas não deixar sem regras.
Em paralelo, o Fisco tributa, o Bacen adverte, e a CVM inibe ofertas fraudulentas.
Progressivamente, países reconhecem, com alguns instituindo como moeda nacional.
Futuro? Os variados níveis de governança desejados, conforme o grau de apetite por riscos.
Sonegação de impostos, lavagem de dinheiro, violação cambial, submundo? Ficam mais fáceis. Contudo, agilidade, comodidade, universalidade, pós-modernidade, também.
As criptomoedas fazem repetir o filme da equação riscos/oportunidades do dinheiro. A história tem ensinado que essa equação pode atravessar fronteiras.
É pois de se esperar que as criptomoedas terão cada vez maior mercado, à medida em que a novidade seja entronizada.
Gilberto Martins de Almeida
gilberto@mda.com.br